Dirigido por François Ozon, o filme ‘Quando Chega o Outono’ proporciona reflexões a partir dos dilemas enfrentados pelos personagens, em especial, ao que é decidido pela protagonista, interpretada pela atriz veterana Hélène Vincent. Nesse percurso, o cineasta adota uma forma intimista ao retratar o cotidiano dessa mulher.

Na trama, Michelle tem uma relação conturbada com a filha Valérie que encontra-se mais sensível por conta do término do casamento. Após um equívoco grave, o afastamento entre elas se intensifica. Tal fato prejudica a relação entre a avó e o neto adorado. Porém, um trágico acontecimento muda o rumo da história.
Um observador do cotidiano alheio
Responsável pela comédia de costumes Potiche: Esposa Troféu (2010) e pelo romântico Verão de 85 (2020), Ozon adota um tom mais comedido na produção mais recente. Todavia, ainda assim, proporciona uma curiosa miscelânea entre o trágico e o onírico.
Portanto, as figuras centrais precisam lidar com as perdas, culpas e frustrações. Porém, ainda há espaço para a leveza. Logo, a região campestre da França que serve de cenário é retratada como um local praticamente encantado em sequências pontuais.
Dentro desse contexto, há uma sensação de maior aproveitamento da luz do dia, busca-se um aspecto natural. Assim sendo, em determinadas locações há um contraste intenso. Por conseguinte, o interior das residências tende a ser pouco iluminado. A fotografia de Jérôme Vincent também investe em ângulos e movimentos de câmera mais livres que parecem acompanhar a personagem central como se fosse um vizinho que a observa no dia a dia.
Como trata-se de uma obra mais contida, há uma predileção pelo que é dito nas entrelinhas. Consequentemente, um olhar, a entonação do ator ou mesmo a própria montagem do filme são capazes de expressar o que se passa na mente das figuras retratadas e, às vezes, as cenas deixam possibilidades em aberto para uma interpretação variada do espectador.

Em suma, ‘Quando Chega o Outono’ exibe um olhar sobre as últimas primaveras de Michelle. Nesse trajeto, propõe questionamentos sobre o senso comum, moral e justiça.
Contudo, não é o longa-metragem mais diferenciado ou impactante do vasto repertório de François Ozon. Mas, ainda assim, apresenta características peculiares de um cineasta que busca revelar os segredos escondidos atrás dos muros, mesmo quando isso choca os mais conservadores. Vale a pena conferir!