Roteirizado e dirigido por Thor Klein, ‘O Matemático’ exibe a trajetória de Stanislaw Ulam, um dos grandes responsáveis pela invenção da bomba de hidrogênio. Mas não espere por explosões e uma série de efeitos visuais, esta não é a proposta do longa-metragem. A obra lança um olhar sob a intimidade do notável estudioso e traz à tona os dilemas morais, os conflitos com entes próximos e os enfrentamentos diante da segunda guerra mundial.
Ambientada na década de 1940, a trama exibe o percurso do jovem matemático Stanislaw Marcin Ulam. Professor da universidade de Havard, nos EUA, ele passa a ocupar um cargo no Projeto Manhattan. Tal programa de pesquisa reunia cientistas notáveis, estes imbuídos da missão de desenvolver bombas as primeiras nucleares. Os estudos e experimentos se davam em Los Alámos, no Novo México.
Forma e informação
Com uma produção bem cuidada, o longa apresenta zelo na direção de arte e na fotografia. Porém, sem a pirotecnia ou os efeitos especiais necessários para representar os testes nucleares, pois estes não são exibidos. Desta maneira, fica clara a proposta cinematográfica de focar no drama por trás desta empreitada. Por conseguinte, as datas de alguns acontecimentos são localizados e demarcados no filme, de modo a orientar o espectador.
Decerto, o foco se dá sob o conflito vivido pelas personagens em meio aos questionamentos morais sobre os usos de tal aparato de destruição. Até porque, como a própria obra menciona, as bombas nucleares desenvolvidas no Projeto Manhattan foram atiradas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Algo que resultou na morte de centenas de milhares de pessoas.
Assim sendo, o cineasta lida com o contexto histórico violento da segunda guerra mundial, no qual o holocausto também está presente. Tais acontecimentos estão ligados de forma direta ao trajeto de Stanislaw e, por conseguinte, as tomadas de decisão dele, um imigrante polonês de origem judaica com familiares na Europa.
Protagonismo e objetividade
Baseada na biografia ‘Adventures of a Mathematician’, escrita pelo próprio Stanislaw Ulam, o diretor prioriza o ponto de vista do protagonista. Todavia, vez por outra, busca por um equilíbrio e exibe o olhar do fiel amigo John Von Newman. Além disso, demonstra a perspectiva do jovem irmão do matemático em um momento pontual de conflito. Apesar do papel de coadjuvante, o posicionamento da esposa do estudioso, encarnada pela atriz Esther Garrel, é evidenciado.
Em suma, diante de tantos registros históricos e personagens ricos dessa trajetória, Thor Klein faz escolhas para compor a trama. Porém, não se trata de um documentário, mas uma ficção inspirada em uma autobiografia. Assim sendo, o cineasta exibe um posicionamento claro, focado na intimidade, nos conflitos internos e nos relacionamentos afetivos e profissionais do notório matemático, inclusive, com direito a floreios artísticos. Vale a pena conferir!