Dirigida e roteirizada por Greta Gerwig, a releitura do romance de Louisa May Alcott ganha frescor no cinema. Com um roteiro marcado por idas e vindas no tempo, pontuado pela fotografia eficiente, a obra cumpre o que promete. A diretora retrata as dores vividas por estas adoráveis mulheres do século 19, porém, sem abdicar de um olhar amoroso e otimista.
Ambientada no período da guerra civil americana, século 19, a trama exibe a trajetória da família March, composta, exclusivamente, por mulheres, já que a figura paterna serve à pátria. O longa lança um olhar sobre a vida dessas diferentes figuras femininas, unidas por um forte laço familiar.
“Passei por dificuldades por isso escrevo histórias felizes”.
(Louisa May Alcott)
Com esta frase em foco, Greta Gerwin transpõe para o audiovisual uma obra afável e, de modo criativo, propõe uma reflexão até sobre o contexto vivido pela autora do livro. Em tela, a personagem encarnada por Saoirse Ronam está à frente daquela época. Munida do desejo de independência, ela atua como um simbolo de luta em diálogo com o contemporâneo.
A parceria entre a atriz e a diretora já se deu em Lady Bird, título lançado 2017. Porém, neste novo trabalho, tal encontro soa mais maduro, há uma sensação de respeito à obra adaptada. Mas ainda assim há espaço para os floreios criativos e também paras as críticas bem exploradas por Gerwin sobre as limitações impostas às mulheres na sociedade.
Anos dourados: Forma e conteúdo
O roteiro se dá entre presente e passado e a fotografia tem papel importante nessa transposição. O tom quente, quase dourado, dá vida às lembranças de uma fase juvenil vivida pelas quatro irmãs. Neste trajeto, talvez, a necessidade de ressaltar tal inocência tenha soado excessiva em uma cena pontual. Todavia, é uma escolha que não desabona o filme.
Com relação às atuações, Saoirse Ronan se destaca na pele de Jo March, todavia, os demais atores e atrizes também cumprem com o proposto. A veterana Laura Dern como a matriarca traz uma gama de sensações com apenas um olhar. Já Florence Pugh como Amy, cresce na cena na qual fala sobre o casamento a partir de uma perspectiva social e econômica.
Meryl Streep rende ótimas cenas cômicas como a tia antipática. Emma Watson é carismática e torna Meg crível, especialmente, no processo de amadurecimento da jovem. Já Eliza Scanlen traz a candura necessária para Beth e Timothée Chalamet convence na pele do charmoso e acessível Theodore, personagem importante neste universo feminino.
>> Relembre Midsommar, terror estrelado por Florence Pugh
Greta Gerwig desenvolve uma obra vivaz e, por vezes, adota um tom crítico, mas sem abandonar um ponto de vista mais afetuoso e otimista. Como atender a um público mainstream ávido por romance e fantasia, sem se distanciar totalmente da realidade? Que cálculo difícil! Mas a cineasta consegue resolver a equação.