Dirigido por Ari Aster, ‘Midsommar: O Mal Não Espera a Noite’ exibe um horror de viés antropológico, marcado por uma forma particular, repleta de experimentações e beleza estética. Livre do objetivo de provocar os típicos sustos do gênero, o cineasta cria uma atmosfera perturbadora em plena luz do dia. Ainda assim, investe em um tema peculiar aos filmes de terror, a máxima do sacrifício.
Na trama, à convite de um amigo, o casal Christian e Dani, encarnados, respectivamente, pelos atores Jack Reynor e Florence Pugh, partem para um festival em uma área herma da Suécia. Todavia, o que parece um paraíso logo revela a faceta de um grupo marcado por crenças e práticas perturbadoras.
Beleza plástica em contraponto ao horror
Uma bela e colorida pintura ocupa a tela do cinema no primeiro momento, esta que se abre para as cenas de paisagens da floresta e o posterior plano de uma vizinhança repleta de casas, o prenúncio da tragédia. Por meio da montagem e da trilha sonora, aliada ao acontecimento devastador que se sucede, o cineasta constrói uma atmosfera de tensão retumbante.
Tal construção narrativa introduz a trama que se desenvolve com a ida para Hälsingland, província histórica sueca. No local, os personagens centrais acreditam estar em um ambiente amistoso. Porém, esta ideia é logo colocada em xeque quando os convidados passam a se ver diante de tradições e comportamentos ancorados em rituais primitivos e até brutais.
Os bosques verdejantes como cenário, as vestimentas claras dos figurinos e o tom afetuoso entre os participantes da comunidade se contrapõem aos costumes perturbadores. Tais tradições resultam em sequências que geram estranheza ou chocam pelo realismo da violência. Isso em paralelo ao tom surreal adotado para retratar as sensações provocadas pelo uso de substâncias alucinógenas.
Sofisticação técnica e narrativa
A fotografia de Powel Porgozewlski é bem-sucedida ao exibir a beleza estética dos cenários em contraponto ao horror daquele contexto. Nesta linha, as experimentações são visíveis tanto nos movimentos e ângulos de câmera, como na pós-produção rica em efeitos, na direção de arte e também na trilha sonora bem utilizada. Em suma, o trabalho técnico é criativo e sofisticado.
Todavia, cenas pontuais podem alcançar um resultado distinto da ideia de horrorizar, soando até risíveis para alguns expectadores. Ainda assim, o filme é engenhoso, especialmente, ao compor tal imaginário social sob um viés antropológico, inclusive, com personagens voltados para esta área de estudo, um deles interpretado por William Jackson Harper, o Cheadle, da série The Good Place.
Responsável pela direção e também pelo roteiro, Ari Ester oferece uma rica leitura subliminar ao traçar uma caminho complexo e sombrio para Dani, a protagonista, porém, bem arquitetado e coerente com o contexto desenvolvido. Todavia, não espere por cenas típicas de susto, por grandes eventos sobrenaturais ou reviravoltas inesperadas, Midsommar oferece outra proposta. Recomendo!