Sob a direção de Corin Hardy, o filme ‘A Freira’ exibe uma atmosfera perturbadora, promove cenas de sustos e se utiliza da linguagem peculiar ao gênero, mas aplicada de modo coerente às características da entidade maligna, já demonstrada em ‘Invocação do Mal 2‘. Aliás, há uma preocupação em costurar esta trama àquilo vivido por Ed e Lorraine, inclusive, no primeiro título.
Ano de 1952, após o suposto suicídio de uma freira, o padre Burke (Demián Bichir) e a irmã Irene (Taissa Farmiga) são convocados pelo Vaticano para investigar o acontecido na abadia da Romênia. Para isso, eles irão contar com a ajuda de Frenchie (Jonas Bloquet), papel também responsável pelas cenas de alívio cômico. Vale destacar que o elenco se enquadra bem àquilo exigido e convence.
Narrativa e som de A Freira
Flashes de ‘Invocação do Mal 2’ dão início à produção e logo a trama faz o retorno à década de 1950, na abadia de Santa Carta, lugar no qual a presença maligna habita. Neste primeiro ato, a criatura nefasta é anunciada com o sofrimento alheio, marcado pelo derramamento de sangue, isso além da cruz invertida e da peculiar trilha que a acompanha.
O trabalho de som é um fator predominante, a ideia de subir o áudio e utilizar artifícios sonoros para promover o horror é algo comum ao gênero e o próprio James Wan, nome por trás de todos os títulos da franquia Invocação do Mal e também Sobrenatural , faz bom uso desse recurso e os reatualiza, inclusive, nas obras em que segue como diretor.
Mas neste título, a trilha sonora se faz ainda mais presente, inclusive, com uma canção exibida em um rádio, elemento estrategicamente incorporado à cena, perfeito para o contraponto entre ruído e o silêncio noturno que anuncia o porvir do mal. Em outros momentos, há um excesso nessa necessidade de incorporar a trilha musical, mas parece condizente com aquilo proposto pela obra.
Códigos do horror
O spin-off de ‘Invocação do Mal’ enfrenta o desafio de adotar os códigos do horror e até mesmo alguns clichês peculiares ao gênero e reatualizá-los de forma condizente com a entidade demoníaca já conhecida pelo público, algo feito de forma engenhosa. Desta maneira, tanto os momentos de tradicional jump scare (sustos) quanto a história em si são bem-sucedidos sob a direção de Hardy.
Para obter uma narrativa sólida, a obra mergulha nas crenças religiosas do cristianismo e dá conta de muita informação, deixando tudo explicado para o público sem parecer enfadonho. No terceiro ato, as cenas de ação física atuam em crescente contínuo, abrem espaço para os variados ângulos de câmera e a figura monstruosa interpretada por Bonnie Aarons revela uma faceta ainda mais feroz.
A fórmula
“Deus termina aqui”, por trás desta porta há algo de demoníaco. Com a chave em mãos, ‘A Freira’ enfrenta o desafio de provocar medo, adotando os já conhecidos códigos do horror, mas de uma forma distinta e condizente com o ser diabólico trazido de ‘Invocação do Mal 2’.
Atender às expectativas por uma obra de terror mainstream, com técnica arrojada e coerência narrativa com a franquia da qual foi gerada é algo difícil. Adiciona-se a isso, a ideia de um conteúdo de fácil absorção, porém com texto nas entrelinhas e a capacidade para provocar sustos. Eis um caminho árduo, mas ao que tudo indica, o filme parece ter cumprido a tarefa com êxito. Recomendo.