Sob a direção de Robin Campillo, ‘120 Batimentos por Minuto’ retrata a luta da organização Act up em prol da conscientização da população sobre a prevenção e tratamento da Aids. Protagonizado por Nahuel Biscayart, o filme também rende espaço ao ator Arnaud Valois que se destaca pela aparente naturalidade em cena.
Início da década de 1990, a organização francesa Act up clama pelos direitos LGBT no tratamento do HIV e questiona o posicionamento do governo e das indústrias farmacêuticas a respeito da produção e distribuição de medicamentos.
Mas mesmo com objetivos semelhantes, as diferenças estão presentes entre os ativistas do grupo e os embates são inevitáveis, todavia, este também é um lugar no qual se constituem os laços afetivos, como fica evidente na relação entre Sean Dalmazo e Nathan, figuras importantes da trama.
Expressão artística
Sem pudores, a estética empregada revela o corpo, mas há um cuidado com a incidência de luz e o clima soturno se apresenta durante a nudez erotizada. Mas sem deixar de sugestionar os caminhos percorridos durante o ato sexual, inclusive, com o uso do preservativo.
Ao lado de Nahuel Biscayart, o ator Arnaud Valois parece bastante à vontade na pele de Nathan e a franqueza e espontaneidade do personagem fluem de forma mais orgânica nesta produção de tom sistemático. A narrativa dá destaque aos protestos e também aos debates repletos de reivindicações com os grandes representantes do ramo farmacêutico.
A fotografia arrojada e inteligente de Jeanne Lapoirie cativa o olhar em diversos momentos e orquestra atmosferas coerentes com o tom científico da temática, mas sem perder de vista a beleza da liberdade e o tom de festa em diversos momentos da vida dos personagens.
Saldo: prós e contras
Principal responsável pelo roteiro, o diretor Robin Campillo propõe muita informação e, por vezes, é possível se perder em meio ao nome de tantas substâncias capazes de cortar este ou aquele sintoma. Apesar das sequências icônicas de reivindicação e da importância do tema tratado, o longa não segue uma linha tão afável.
Portanto, não se trata de uma história de amor que dá espaço à discussões paralelas ou de uma situação inesperada que revela aos poucos os obstáculos a serem enfrentados. Pelo contrário, o filme adota um percurso objetivo e de cunho político engajado, algo claro desde o primeiro ato.
‘120 Batimentos por Minuto’ traz à tona uma discussão necessária sobre o HIV e mesmo hoje com os avanços da medicina, a prevenção ainda é o melhor remédio. Enquanto narrativa cinematográfica, não soa muito orgânico, todavia, se firma como uma trama bem amarrada, correta e condizente com o proposto.