Roteirizado e dirigido por Darren Aronofsky, ‘Mãe!’ investe em movimentos de câmera distintos do usual cinema tradicional mainstream e conduz o espectador sob a perspectiva da protagonista vivida por Jennifer Lawrence. Com uma atmosfera capaz de causar estranheza, o filme desperta curiosidade e torna-se ainda mais instigante ao tocar em questões sensíveis da humanidade.
À primeira vista, Javier Bardem vive um poeta e Jennifer Lawrence encarna uma espécie de arquiteta responsável pela reconstrução da casa em que vivem, localizada em um local distante e isolado. Todavia, a aparente paz se perde a medida em que surgem visitantes inesperados e tudo caminha para um resultado devastador.
Neste sentido, os personagens de Ed Harris e Michelle Pfeiffer, assim como tudo aquilo que envolve a história deles causa estranheza e impacto aos olhos da protagonista, que também funciona como ponto de vista do espectador. Aliás, vale destacar o desempenho de Jennifer Lawrence e também o da atriz veterana, Michelle capta com maestria a proposta.
De início, o enredo e a atmosfera lembram o trabalho de Roman Polanski em O Bebê de Rosemary. Todavia, a narrativa segue por um caminho próprio e aspectos inseridos sutilmente de início são evidenciados ao longo da trama e este microcosmo revela algo grandioso e perturbador.
Complexidade: riqueza de camadas
Idolatria, religião, arquétipo materno, crueldade; tais temáticas complexas são amarradas e transpostas para o universo de cores surreais desta obra cinematográfica, propondo assim diversos questionamentos sobre o ser humano.
A casa como o lugar que habita o coração, o amor em proporções avassaladoras que se sobrepõe a aquilo propagado pelo romantismo, o lado perigoso da devoção que se impõe diante da razão, a criatura que se sacrifica em prol da vida, mas que também é capaz de ceifá-la. A revolta, a carência, o desejo de vingança, a miséria e o desespero; as ‘tristes’ facetas humanas trazidas para a cena.
Reflexões: experiência diferenciada
Conhecido pela direção de Cisne Negro (2010), Darren Aronofsky assina o roteiro desta nova produção e opta por um exercício narrativo no qual o público é desafiado. As situações apresentadas de forma inesperadas podem soar abruptas e, portanto, menos ‘orgânicas’; todavia, a escolha condiz com o tom alegórico adotado pelo longa.
Do ponto de vista narrativo, personagens interessantes encarnados por artistas de peso, como a própria Michelle Pfeiffer, poderiam ter sido ainda mais aproveitados dentro de toda a jornada narrativa. Mesmo assim, cumprem o exigido e imprimem a mensagem desejada pelo diretor.
Quanto a estética adotada, o cineasta repete a parceria com o fotógrafo Matthew Libatique e opta por movimentos de câmera com maior fluidez, dando ênfase a protagonista e a tudo aquilo observado por ela. Neste sentido, os planos gerais e estáticos são empregados de maneira pontual.
‘Mãe!’ exibe uma proposta ousada, tanto pela forma empregada quanto pelo conteúdo oferecido. Repleta de camadas, a obra oferece uma viagem ao cerne da humanidade, entretanto, não se trata de um filme afável e, por vezes, requer um exercício intelectual maior. Recomendo!