Sob a direção de Andy Muschietti, a nova adaptação audiovisual de ‘It’ exibe cenas de horror impactantes, porém, permeadas pelo tom de aventura e humor juvenil presente em diversos momentos da narrativa, uma mescla condizente com o universo retratado. O filme também dá ênfase aos traumas vividos pelas personagens dentro de uma perspectiva cruel e bastante realista.
Ambientada em 1988 e 1989, a trama narra o estranho desaparecimento dos habitantes de Derry, tudo orquestrado por um ser sobrenatural que age sob a forma do palhaço Pennywise. Para enfrentá-lo, sete pré-adolescentes precisarão unir esforços e vencer todas as adversidades da vida para lidar com a criatura perigosa.
Baseada na obra literária homônima de Stephen King, ‘It’ (nome original em inglês) resulta em uma produção audiovisual marcada pelo horror com nuances do subgênero gore, ou seja, o sangue jorra em determinadas sequências e marca a força descomunal do antagonista. Destaque para a emblemática aparição de Pennywise no bueiro, o desenlace é animalesco e se sobrepõe àquilo exibido pelo título da década de 1990.
Com o pé na realidade
A crueldade vai além da figura sobrenatural, a perversidade também se apresenta em cores realistas, como nas representações do bullying sob a forma mais violenta, no nauseante caso de abuso sexual ou até mesmo no perfil devastador de um psicopata em fase de desenvolvimento.
Todavia, tais aspectos tortuosos são balanceados com momentos de descontração juvenil, como o desabrochar do primeiro amor, os desafios divertidos entre amigos ou mesmo por meio dos diálogos cômicos travados entre eles. Por vezes, o tom adotado remete às melhores aventuras dirigidas por Steven Spielberg nos anos de 1980.
Vale ressaltar, trata-se de uma obra com o intuito de retratar o universo juvenil, portanto, existem algumas nuances quase infantis na própria narrativa, o que proporciona um refresco na tensão das cenas estilo jump scare ou na dramaticidade de alguns acontecimentos, além de dialogar com o clima de infância proposto.
Saldo positivo
Conhecido pela direção de Mama (2013), Muschietti agora desenvolve um trabalho com maior consistência e também parece mais dedicado em provocar pavor. O cineasta demonstra novamente o empenho na construção de movimentos corporais diferenciados para as criaturas, algo visível na figura sinistra que remete a pintura ‘O grito’ ou mesmo em determinadas ações de Pennywise.
Se Tim Curry foi reconhecido pelo ótimo desempenho como o vilão nos anos de 1990, neste novo título, Bill Skarsgård também é bem-sucedido e desenvolve um trabalho próprio, mas ainda assim, harmônico com o todo, inclusive, o ator investe no olhar perturbador.
Aliás, todos os integrantes do cast são bem aproveitados e nomes como Jaeden Lieberher, Nicholas Hamilton e Sophia Libis se destacam. Conhecido pelo papel em ‘Stranger Things’, Finn Wolfhard cumpre com o proposto, assim como Jeremy Ray Taylor, Chosen Jacobs, Jack Dilan Graser e Wyatt Oleff.
Para além do medo provocado por figuras sobrenaturais, o filme propõe um olhar sobre a monstruosidade humana, algo bem conduzido por Muschietti. ‘It – A Coisa’ assusta, diverte e prova mais uma vez que o ‘despertar’ de uma nova franquia pode render uma grata surpresa e que venham as sequências! Recomendo.