Sob a direção de Luc Besson, ‘Valerian e a Cidade dos Mil Planetas’ exibe efeitos de computação gráfica sofisticados, capazes de dar vida à criaturas alienígenas fabulosas e aos mais variados cenários de um universo fantástico. Todavia, a narrativa investe em diálogos forçados e típicos clichês do cinema mainstream, aspectos que se sobrepõem ao grande potencial desta produção inspirada na HQ de origem europeia.
Na trama, o major Valerian (Dane DeHaan) e a sargento Laureline (Cara Delevingne) têm a missão de recuperar o conversor Mül e evitar que ele caia em mãos erradas, a partir daí uma série de acontecimentos os levam a um embate inesperado, no qual será colocada em xeque a integridade da Estação Alfa, local responsável por abrigar milhares de espécies humanas e alienígenas.
Os primeiros minutos da exibição dão conta de uma montagem competente, capaz de explicitar o processo de exploração espacial do homem e a evolução deste por meio do contato com as mais diferentes formas de vida do espaço sideral, um diálogo plausível e bem adaptado a proposta fantasiosa do longa.
Da mesma maneira, a ideia de retratar uma cultura alienígena como uma espécie de versão utópica do que poderia ser a humanidade é outro ponto positivo, porém, tais considerações cedem lugar, por vezes, ao relacionamento vivido entre os protagonistas.
Apesar de corresponderem ao pedido, Cara Delevingne e Dane DeHaan vivem uma dupla imersa em uma relação estilo ‘a gata e o rato’, no qual o rapaz faz a linha conquistador e ela, arisca, rebate as investidas dele. Algo usado a esmo por Hollywood e replicado pelas telenovelas.
Em linhas gerais, grande parte dos diálogos parecem forçados e acabam por resvalar em um senso comum de lugar fácil, com direito a reflexões rasas e quase juvenis, assim como as conversas românticas travadas entre os protagonistas. Neste sentido, a mensagem como um todo acaba por resultar em um discurso batido e piegas.
A própria personagem de Rihanna que funcionaria como uma crítica à política anti-imigração de Trump, dentro do contexto narrativo, soa mais como puro entretenimento e a opção pela cantora se confirma apenas como uma usual estratégia de marketing para angariar espectadores.
Já o ator veterano Clive Owen tenta trazer mais camadas para o comandante Arun Filitt, mas acaba se assemelhando ao Mr. Bison do sofrido Street Fighter (1994), longa baseado no jogo de videogame homônimo.
Adaptar: missão difícil
Responsável pela direção e também pelo roteiro, o talentoso Luc Besson detém como perfil um discurso forte e, por vezes, engajado. Todavia, ao adaptar a história dos quadrinhos para o cinema, a tentativa de tratar de algo mais relevante parece ter sido frustrada e como resultado apresenta uma obra rarefeita de abordagem superficial típica de um blockbuster irregular amparado por ótimos efeitos visuais, algo evidenciado durante as 2h e 17min da projeção.
Aliás, a tecnologia CGI (imagens geradas pelo computador) é o ponto forte do longa, além disso, é preciso dar crédito ao zelo pela costura básica da narrativa, sem furos evidentes. Vale ressaltar também a dificuldade em adaptar um quadrinho franco-belga dentro de uma perspectiva afável aos grandes estúdios e ao mercado internacional cinematográfico.
Mas diferente da adaptação bem-sucedida de As Aventuras de Tintim (2011) para o cinema, por exemplo, este título pretende tocar em questões mais complexas, porém, a maneira como se perfaz revela a pouca consistência de uma obra pretensiosa diante daquilo que realmente apresenta.
Visualmente rico, porém, de identidade e foco frágeis, além de pouco engenhoso em termos de roteiro, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas funciona como um entretenimento com ótimas animações em CGI, mas opte pelas salas com a tecnologia 3D e aproveite o que o filme tem de melhor a oferecer, se possível, acompanhado de um imenso balde de pipoca.