Na trama, Clara é pressionada a vender o apartamento para uma grande construtora, o local para ela é a representação de uma vida inteira marcada pela superação, pelo amor e pela convivência em família. Em meio a isso, a protagonista será testada e precisará encontrar forças para exercer o direito de ali permanecer e não ceder aos ataques dos interessados neste negócio.
Sem pudores, Sônia Braga se entrega a personagem em cenas livres de qualquer glamour e mesmo nas sequências de sexo o tom é naturalista e casa com a proposta narrativa que de início causa estranheza pela inserção de sequências com este teor. Aliás, o grande acerto da atriz foi o equilíbrio entre força, beleza, sensibilidade, racionalidade e também a estupidez, traços que compõe o perfil desta jornalista, como bem destaca a canção Meu jeito estúpido de amar, trilha do longa.
Destaque para as atuações, livres de qualquer overacting, aliás, algo pertinente a orientação do cineasta e roteirista do filme, nesta linha, a violência também se faz presente em diversos momentos, mas quase sempre de forma velada, como no embate travado entre Clara e Diego, figura interpretada por Humberto Carrão.
O preconceito é demonstrado, o poderio das oligarquias também é lembrado, o posicionamento social daqueles menos privilegiados é discutido mesmo que em conversas amorosas entre familiares. Quanto à forma, a disposição da trama em capítulos é funcional e o título final, além de intrigante, dialoga perfeitamente com o mal que se instala na vida em sociedade, algo enraizado e devastador.
De viés reflexivo e forte perfil autoral, Aquarius marca o retorno de Sônia Braga ao cinema brasileiro em um papel de peso e, além disso, consolida o nome de Kleber Mendonça Filho como um dos expoentes desta nova safra da produção nacional. Vale a pena conferir!