Na trama, Joy tem dois filhos e enfrenta sérias dificuldades financeiras, como se não bastasse isso, mora com uma mãe aficionada por teledramaturgia, o ex-marido e a avó, a voz sensata da casa; além da constante presença de um pai emocionalmente conturbado. A jovem precisará investir alto na invenção e venda de um utensílio de limpeza que poderá ser o início de uma nova trajetória.
Justamente neste paradoxo que o diretor atua para criar uma atmosfera onírica, enquanto estabelece as telenovelas norte-americanas, caracterizadas pelo tom over (kitsch), como um contraponto a realidade vivida por essa família. Isso também fica visível quando retrata o sonho da inventora, uma estratégia do roteiro que mostra cenas divertidas e esclarecedoras do inconsciente.
Além disso, as situações ‘surreais’ tratadas com naturalidade são um prato cheio para o elenco, composto por nomes como Robert De Niro, Diane Ladd, Virginia Madsen e Isabella Rossellinni, todos bem aproveitados. Bradley Cooper está presente e cumpre exatamente o exigido, do mesmo modo, o relacionamento entre os personagens de Jennifer Lawrence e Édgar Ramirez é algo curioso.
Com um discurso de cores feministas, o longa não se prende a ideia do homem ideal, nem se perde na busca por compromissos amorosos, apesar disso ser discutido e até vivido pela moça como uma escolha e não uma imposição social, portanto, não há perda do foco no percurso de derrotas e vitórias desta empreendedora em busca de um lugar ao sol.
O uso bem pensado das imagens em P&B, a iluminação aconchegante, os embaçamentos sutis e artísticos, além das externas marcadas pela neve são exemplos de uma fotografia que narra perfeitamente os momentos e até sentimentos diferentes da figura central, um trabalho assinado por Linus Sandgren.
Da mesma maneira, o tom lúdico adotado é algo entusiasmante, ainda na linha de ousadias, o uso do flashback e flashforward (salto no futuro) também ressaltam a versatilidade da atriz e não resultam em quebras abruptas, aspecto recorrente no uso destes recursos. Os personagens ditos disfuncionais porém apaixonantes de David O. Russell estão presentes neste roteiro escrito por ele.
No entanto, o trajeto narrado neste filme não tem a mesma clareza ou o teor de veracidade de O Lado Bom da Vida (2013), por exemplo. Ainda assim, Joy: O Nome do Sucesso contribui para o empoderamento da mulher, esbanja beleza fotográfica e nos traz o trabalho de um cineasta que sabe fazer cinema de conteúdo e forma. Vale a pena conferir!