Estrelado pela renomada Meryl Streep, ‘Ricki and the Flash: De Volta pra Casa’ exibe cenas simpáticas e ótima trilha musical entoada pela protagonista, aliás, um papel rico e bem interpretado. No entanto, o longa se perde em clichês, não desenvolve o foco dramático e fica aquém daquilo esperado de um diretor premiado como Jonathan Demme.
A cena inicial dá o tom da trama, desde o plano detalhe da guitarra passando pela exibição de Ricki e da banda em um ambiente bastante representativo da situação vivida pela cantora, uma rotina quebrada pelo pedido de ajuda do ex-marido. Rumo ao encontro com a filha depressiva, ela terá que lidar com todas as culpas acumuladas ao longo da vida.
Neste regresso, tudo parece contrastar com a realidade da rockeira, desde a casa moldada nos rigorosos requintes de beleza e conforto, passando pelos figurinos dos familiares e até mesmo o simpático cachorro. Justamente, neste meio que se dá o embate com a personagem de Mammie Gummer, uma figura tomada por ressentimento pela mãe e também ferida pela traição do marido.
Apesar de ser um tanto over the top, é criada uma expectativa de que tal ponto nervoso viria a render uma ótima história, no entanto, o que poderia gerar um complexo processo de autoconhecimento e aceitação acaba se diluindo em resoluções simplistas como uma ida ao cabeleireiro, ou mesmo na clichê sensação de inferioridade moral frente à madrasta dos filhos. Diga-se de passagem, quase perfeita.
Mesmo assim, a atuação de Meryl segue correta e ela até consegue brilhar nos vocais e também quando deixa transparecer o pensamento arcaico e bastante conservador da musicista, por vezes, escondido por detrás da postura rock n’ roll, conforme é demonstrado na relação com filho homossexual ou mesmo no discurso pró-Bush.
Em momentos como este, a mão de Jonathan Demme parece estar presente, porém são cenas isoladas de uma produção superficial, marcada por clichês, como os ‘narizes tortos’ da alta sociedade para o visual ‘descolado’ de Ricki. Além disso, a montagem não consegue se encontrar, algo perceptível nos solos musicais, longos demais para a dinâmica da narrativa.
Ainda assim, vale ressaltar o repertório composto por pérolas como Drift Away ou My Love Will Not Let You Down e até mesmo a irreverência em canções pop como Bad Romance de Lady Gaga, todas interpretadas com esmero pela premiada atriz.
No mais, Kevin Kline está dentro do proposto pelo longa, assim como os demais do elenco, com exceção de Rick Springfield, que deixa um pouco a desejar e parece um tanto inexpressivo, apesar da ótima oportunidade como par romântico da protagonista.
Com títulos como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Filadélfia (1993) no currículo, Jonathan Demme parece ter encontrado dificuldade em equilibrar drama, comédia e musical, ou talvez, tenha lhe faltado foco e um roteiro mais consistente. ‘Ricki and the Flash: De Volta Pra Casa’ exibe algumas sequências divertidas e performances musicais atraentes, mas não vai muito além disso.