Estrelado por Hellen Mirren, A Dama Dourada conta com ótimo elenco e argumento de peso, mas se o conteúdo é legítimo e toca em assuntos marcantes da história da humanidade; a narrativa cinematográfica perde em sofisticação e sob a direção de Simon Curtis adquire uma roupagem típica de telefilme.
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Logo após o enterro de um ente querido em 1998, Maria Altman é tomada pela necessidade de resgatar a memória da família, presente nos bens confiscados pela ditadura hitleriana. Dentre as obras, o valioso ‘Retrato de Adele Bloch-Bauer’ será objeto de uma grande disputa e para ter alguma chance de vitória, ela contará com o apoio do advogado interpretado por Ryan Reynolds.
Baseado em fatos reais, o filme retrata a briga judicial pela mais popular pintura de Gustav Klimt, até então sob domínio e uso do governo austríaco. Neste sentido, o argumento tem total credibilidade e relevância ao exibir uma das mais famosas restituições de patrimônio a uma das vítimas dos crimes cometidos por Adolf Hitler.
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Adaptado a partir do livro de Anne-Marie O’ Connor, o longa investe de forma maciça no flashback e estabelece um paralelo entre a ação contemporânea e o drama vivido pela protagonista durante a juventude na Áustria. No entanto, o uso excessivo deste recurso resulta em quebras constantes da fluidez narrativa, ao mesmo tempo em que insiste nas constantes reiterações.
Por mais que a ideia seja transpor para a tela o sofrimento da personagem no resgate e enfrentamento do passado; há uma visível falta de ousadia e até mesmo de criatividade no roteiro. Quanto a abordagem melodramática, não há problema algum nesta escolha, mas a forma como Simon Curtis investe no gênero resvala em cenas clichês. O próprio prólogo exemplifica a gritante necessidade de reiteração e obviedade exibida ao longo de toda a trama.
Ainda assim a equipe responsável pela seleção de elenco merece crédito, impressionante como os atores se adequam as figuras fictícias, assim como a sincronia harmoniosa conseguida pela direção de arte, figurino e maquiagem. A jovem Maria encarnada por Tatiana Maslany é caracterizada de forma adequada, além de manter sintonia com a postura e características constituídas por Helen Mirren.
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Aliás, a interpretação da renomada atriz é correta mas não se destaca como no premiado ‘A Rainha’ (2006). Ainda assim o diretor acerta nas pausas mais dramáticas porém logo desemboca no estilo telefilme, com direito a cenas um tanto forçadas com o intuito de promover maior carga dramática, como o acesso de raiva encenado por Ryan Reynolds no banheiro.
Mesmo assim, os atores cumprem o proposto, algo visível na relação bem desenvolvida entre o personagens centrais, no empenho de Daniel Brhu como o jornalista austríaco disposto a ajudá-los na empreitada, e até mesmo Katie Holmes em uma participação pequena mas no tom ideal.
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Cerca de 100 mil obras ainda não foram devolvidas aos verdadeiros donos, A Dama Dourada faz considerações louváveis sobre um momento obscuro do século XX, marcado pela truculência nazista e pela dizimação dos judeus. Um tema de grande impacto, com uma heroína cativante, mas tudo convertido em um conteúdo audiovisual de pouca sofisticação cinematográfica.