Inspirada no conto O cortador de bambu, a trama exibe a trajetória de uma figura divina surgida a partir do broto da planta. Ao ser acolhida por um casal de idosos, a entidade assume a forma humana e cresce rapidamente. Por meio de forças sobrenaturais, ela receberá todo o necessário para se transformar em uma princesa e neste trajeto irá se deparar com questões sobre o amor e a liberdade.
Diferente das animações recentes cada vez mais empenhadas na tecnologia 3D, o longa parece beber na fonte do impressionismo e exibe traços menos preocupados com a exatidão das formas e segue mais atento a experimentação, algo claro no uso das cores das paisagens e também na falta desta em uma situação de grande tensão e devaneio.
Mesmo com uma proposta reflexiva de ritmo mais literário, a narrativa exibe imagens de fácil empatia, desde os primeiros passos da bebê e seus tombos, passando pela convivência divertida com as demais crianças até os momentos de puro afeto. O amadurecimento se dá com a chegada do primeiro amor embarreirado pelas obrigações de um destino ‘fadado’ a realeza.
Assim como o nome escolhido para a personagem central, a cena embaixo da cerejeira parece erradiar uma luz brilhante e destaca o quanto os hábitos mais simples podem resultar em momentos plenos de alegria. A pobre menina rica atrairá muitos pretendentes, mas será que algum deles conquistará o seu coração?
Não espere algo como A Viagem de Chiriho do Miazaki que prende a atenção do início ao fim com fabulosas cenas de aventura de encaixe curioso e fascinante. O conto da Princesa Kaguya tende ao drama e investe em maiores pausas poéticas, o que não é um problema mas uma escolha narrativa.
Mesmo com o pé na realidade, aspecto presente nos diversos questionamentos sobre as convenções sociais,Takahata opta pela proximidade com a história original e mantém o desfecho fantástico, porém concede maior compaixão a princesa e promove um olhar esperançoso sobre a humanidade.