Dirigido por Maxime Govare e Noémi Saglio, Beijei uma Garota investe em temática pouco recorrente nas comédias românticas de circuito mais comercial. No entanto, evita momentos de seriedade e reflexão que poderiam conceder maior veracidade a trama sem comprometimento da comicidade.
Na trama, Jérémy Deprez vivido por Pio Marmai se vê diante do inesperado envolvimento com uma bela sueca interpretada por Adrainna Gradziel. Isto não seria um problema, caso ele não estivesse em outra relação amorosa há 10 anos e para dificultar ainda mais a situação, inclua o fato deste par ser alguém do sexo masculino, papel de Launnick Gautry.
Com este mote, a narrativa investe no amor romântico, com a inexplicável e encantadora atração que ultrapassa a lógica e até mesmo a orientação sexual do personagem central. A partir daí, são exibidas situações que contradizem as máximas convencionadas e tudo é colocado em xeque de modo irreverente.
Desde os pais que tem dificuldade para aceitar o relacionamento do filho com uma mulher, passando pela reflexão da homossexualidade como forma de contestação às convenções burguesas; até às piadas do personagem de Frank Gastambide, a típica representação do cafajeste heterossexual mas ainda assim um amigo leal.
Aliás, tal entrosamento permite diálogos divertidos e de ritmo intenso como aqueles travados por meio de aplicativos de smartphone. Contemporânea e sem perder o ritmo, a narrativa é acompanhada por uma trilha musical presente mesmo nos momentos de tristeza, mas se parece simpática em determinadas ocasiões, em outras poderia ser dispensada, dando maior espaço a reflexão.
Como o gênero pressupõe, o longa exibe o amor idealizado que até se concretiza no enlace de um casal tomado pelos olhares encantadores da jovem de feições ‘angelicais’ e pela expressão corporal do rapaz atônito. Neste percurso, a direção de fotografia cumpre o proposto.
Ângulos e enquadramentos voltados para o enaltecimento da beleza estética de um elenco erotizado mas de forma suave e quase natural, algo bem peculiar ao cinema francês. Dentro de uma perspectiva cativante do olhar, são exibidos closes dos corpos, capazes de evidenciar o lugar de intimidade, mas também uma estratégia bastante recorrente de captura da atenção.
Beijei uma garota acerta ao narrar o dilema do protagonista dividido entre amores de sexos distintos, mas ‘assume’ um caminho bastante recorrente a comédia romântica, mantendo assim a ideia do sacrifício como prova de amor e optando por um clímax bastante semelhante a qualquer outra trama do repertório típico.
Aliás, o que vem depois disso é mais próximo do real e poderia ser abordado ao longo da narrativa; assim como o investimento nas pausa reflexivas e em algumas doses de cenas dramáticas sem o comprometimento do lado cômico. De qualquer forma, a produção rende boas risadas e traz à tona uma temática possível, porém pouco relatada no cinema blockbuster.