Livre de pudores, o diretor francês Bertrand Bonello trás para as telas um retrato do que teria sido a época mais intensa da vida do estilista Yves Saint Laurent. Apesar das experimentações visuais de filmagem ou edição, das tiradas espirituosas sobre questões de gênero e da bela atuação de Gaspard Ulliel no papel título, o filme se excede em cenas de menor relevância desembocando em idas e vindas cronológicas em uma narrativa de 150 minutos.
O paralelo entre a dedicação profissional e o descontrole mental acentuado pelo uso de drogas, a trama exibe a trajetória de Saint Laurent entre os anos de 1967 e 1977. Como o próprio se referia ao seu talento incomparável: “Eu criei um monstro e agora tenho que conviver com ele”. Desde a relação com o companheiro Pierre Bergé (Jérémier Renier), o cuidado meticuloso com as suas criações até as experimentações sexuais de uma nova paixão.
No cinema, a tela divida em splint screen é utilizada, por vezes, para destacar sensações, ou mesmo uma forma de dialogar com os traumas sofridos pelo estilista no tempo de exército e sua alienação do mundo para além da moda. Exemplo disso é a sequência que exibe as suas coleções em contraponto a momentos impactantes da sociedade, inclusive em cenas de guerra.
Os conflitos internos e a personalidade gentil mas também traiçoeira, tudo trabalhado por Gaspard Ulliel de maneira crível e livre de pudores, seja em cenas de nudez e sexo ou no cuidadoso trabalho de expressão corporal. A direção de Bertrand Bonelo acerta ao exibir as nuances do protagonista assim como a de seu parceiro Pierre, peça fundamental na construção do império YSL.
Ao investir em experimentações cinematográficas, o diretor constrói de maneira irreverente uma cena em que discute a questão de gêneros e fala sobre o poder do sexo masculino na sociedade. Como a moda e o cinema influenciam e se aproveitam desses códigos para se constituir, mas também para ousar e até mesmo contestar.
No entanto, a insistência em cenas de pouca relevância narrativa, de ritmo contemplativo em meio a um roteiro de cronologia dinâmica, pouco suave e não linear resulta em uma sensação de que a edição deveria ser mais enxuta ou a passagem de tempo poderia ser mais orgânica, ou ambos.
Ainda assim, Saint Laurent é uma produção sofisticada, de temática e questionamentos típicos do cinema independente, tratando com delicadeza mas sem protecionismos da biografia de um dos grandes nomes da história da moda.