Dirigido por Scott Derinckson, A Entidade (Sinister) investe em uma trama de horror com um leve toque de documentário. A narrativa acerta na exibição de vídeos em 8 mm como parte da história, o que proporciona um ambiente propício para imersão na trama macabra. No entanto, algumas repetições de comportamento e rituais causam momentos de tédio, contornados pelo roteiro bem amarrado.
Escritor passa noites a fio assistindo filmes. Divulgação/Paris Filmes
Em busca de inspiração para um novo best-seller, o escritor Ellison Oswalt (Ethan Hawke) e a família se mudam para a casa que serviu de cenário para assassinatos brutais. Ao se deparar com uma filmadora Super 8 e alguns rolos de filme ‘esquecidos’, ele começa a desvendar uma terrível série de crimes relacionados a uma entidade diabólica que rouba alma de crianças.
Com direito a sótão escuro, animais peçonhentos e momentos de tensão, o longa constrói uma atmosfera de pavor bem sucedida, intercalada pelos típicos silêncios que antecedem o confronto com figuras monstruosas. Além do uso de recursos, como o projetor que liga sozinho, um ruído inesperado e a insegurança do perigo noturno que provocam identificação imediata do público com o drama vivido pelo escritor.
A narrativa trabalha com uma dinâmica que não é exatamente de flashback como a usada em O Exorcismo de Emily Rose (2005), que também contou com a direção de Derinckson. A Entidade substitui esse esquema pela exibição das filmagens em super 8, o que de certa forma evita a quebra, mas resvala em uma repetição, às vezes, monótona que é contornada pela inserção de sustos repentinos e sonoplastia providencial.
São situações que provocam desconforto, como os perturbadores ataques de sonambulismo do filho do casal ou a filha que desenha figuras de antigos moradores pelas paredes da casa, o que ganha contornos fantasmagóricos no decorrer da história. Tudo caminha para um resultado trágico que remete a outros títulos, como O Último Exorcismo (2010) e Atividade Paranormal 3 (2011).
Para quem acompanha a nova safra de filmes do gênero, já pode imaginar o desfecho, que ao tentar explicar o quebra-cabeças de forma rápida comete um deslize, mas ainda assim fecha o ciclo roteirístico de forma coerente. Bem ou mal, todos têm um final, onde o provável consegue surpreender, especialmente, quando ele é diabólico demais para ser verdade.
Realidade, documentário fake e narrativa tradicional
A produção, assinada pelos realizadores de Atividade Paranormal e Sobrenatural, traz alguns aspectos de documental ao exibir vídeos de mortes cruéis no formato 8 mm, mas não segue a formula dos atuais documentários fakes. Não há testemunhos para a câmera, aquela ‘irritante’ data de filmagem, ou a sucessão de cenas fora de foco.
Na tela, o tratamento da fotografia é perceptível, com cores predominantes nos tons frios, iluminação quente para embalar o clima familiar e outra mais dura com sombreamentos para as situações duvidosas. Pena que os cuidados não se estenderam a maquiagem das almas penadas.
Ao projetar o material em 8 mm, o protagonista se depara com sucessões de assassinatos com riqueza de detalhes e realismo, característica marcante do subgênero torture porn representado em sucessos de bilheteria, como o da franquia Jogos Mortais. Direção e elenco competentes em uma narrativa que tem o sobrenatural como pano de fundo de uma série de assassinatos.