Sob a direção de Tristan Séguéla, a comédia ‘O Bom Doutor’ lança mão de uma gama de possibilidades a fim de divertir o público. Em contrapartida, não desenvolve tanto a questão de fundo dramático relacionada ao personagem central. Deste modo, perde a oportunidade de enriquecer a narrativa. Porém, cumpre com o objetivo fundamental enquanto uma trama leve e de viés cômico.
Plena noite de Natal, Serge, interpretado por Michel Blanc, é o único médico disponível em um serviço de atendimento domiciliar. Contudo, por conta de alguns fatores, ele ficará impossibilitado de atender e irá precisar de ajuda. Neste momento, o jovem Malek, personagem do ator Hakim Jemili, passa a agir como uma espécie de parceiro profissional.
Escolhas: forma e conteúdo
Enquanto o experiente Serge possui um perfil ácido e um tanto egoísta, Malek é prestativo e, por vezes, chega até a ser ingênuo. Tal contraste funciona como uma estratégia eficiente. A partir disso, ocorrem os conflitos e, como consequência, um aprendizado se dá entre os personagens. Nesse ponto, o roteiro, escrito por Jim Birman e Tristan Séguéla, é certeiro.
Por conseguinte, por meio do diálogo, também é ressaltada a conduta antiética e perigosa dos personagens centrais. Porém, tal problemática precisa ser abstraída para o filme se concretizar. Assim sendo, a cada parada, um paciente com uma queixa específica e, por consequência, mais possibilidades para o humor. Ainda assim, há uma preocupação em demonstrar ações eficazes de Malek. Deste modo, ele torna-se confiável e cativante aos olhos do público.
No entanto, ao optar pela ênfase no fazer rir, não se explora o que move, por exemplo, Serge, mas apenas justifica-se o comportamento dele por conta de um acontecimento extremamente doloroso. Nesta linha, os roteiristas também não desenvolvem tanto a relação dele com Rose, esta interpretada por Solène Rigor e, assim, não se aprofundam no tema.
Entre diferentes tentativas, oferece momentos divertidos
Enfim, trilhar por um caminho mais complexo, seria algo arriscado, inclusive, do ponto de vista comercial. Isto posto, é compreensível a escolha por suprimir o drama e não desenvolver tanto as relações sob este viés. Mas, em relação ao ponto central, o humor, por vezes, é um tanto ingênuo e até pastelão, já em outros momentos, exibe uma boa pitada de acidez.
‘O Bom Doutor’ permite uma reflexão fácil e simpática sobre o papel do médico e o que, realmente, deveria movê-lo no exercício da profissão. No mais, propicia alguns momentos divertidos ao espectador. Portanto, pode ser a opção descontraída para uma sessão de final de tarde.