Sob a direção de Kevin Kölsh e Denis Widmeyer, Cemitério Maldito investe na construção da atmosfera e exibe tensão em cenas de susto típicas e até esperadas, porém, bem executadas. Além disso, faz o uso competente e coerente da câmera nas sequências filmadas em plongée (vistas de cima para baixo). Todavia, o início instigante dá lugar a uma narrativa de ritmo irregular.
Na trama, Louis se muda com a família do centro urbano para o interior a fim de conquistar uma melhor qualidade de vida e um relacionamento mais harmônico com a esposa. Porém, a tragédia recai sobre eles e tudo tem relação com a terra amaldiçoada, para além do cemitério de animais.
Adaptação: forma e conteúdo
Um flashfoward apocalíptico dá início ao longa, este marcado por cenas aéreas, recurso visual bastante presente, por exemplo, em O Iluminado (1980), adaptação cinematográfica bem-sucedida da obra de Stephen King, roteirizada por Stanley Kubrick e Diane Johnson. Apesar de tal relação com o título mencionado, a velocidade e o movimento de câmera são distintos.
Na verdade, Cemitério Maldito tem trajetória diferente do filme dirigido por Kubrick. Mas ainda assim, Kevin Kölsh e Denis Widmeyer merecem crédito por investir maior tempo na construção da atmosfera. Todavia, os diretores não o fazem de forma equilibrada e o ritmo narrativo soa extremamente lento em contrapartida a um terceiro ato cheio de reviravoltas e embates físicos.
O uso das transições na montagem também contribuem para o tom monocorde. Mas a despeito disso, vale ressaltar o ótimo trabalho de câmera, no qual as imagens filmadas de cima para baixo compõem de forma inteligente a ideia do olhar divino. Tal estética conversa com a reflexão proposta sobre a morte, inclusive, sob a perspectiva espiritual e religiosa presente nos diálogos.
Nesta linha, as conversas entre o protagonista, de Jason Clarke, e a Rachel, da atriz Amy Seimetz, funcionam dentro do que é proposto. Por conseguinte, a situação traumática vivida pela personagem na infância é aproveitada na medida do possível; já o veterano John Lithgow cumpre com o esperado. Mas é a jovem Jeté Laurence, guiada por Kölsh e Widmeyer, que ganha destaque.
Em suma, o nome Cemitério Maldito, por si só, já cria uma expectativa enorme e, quem sabe, seja aquele tipo de obra literária de sucesso que no cinema deixe sempre a desejar. Ou, talvez, os produtores ainda não tenham encontrado uma forma de converter o conteúdo do livro em uma proposta cinematográfica de viés comercial, porém, bem amarrada, com timing e arrojada.