Sob a direção de John Krasinski, ‘Um lugar Silencioso’ exibe trama marcada por momentos de tensão e trabalho de som arrojado. Estrelado pelo próprio diretor e também por Emily Blunt, o filme cumpre bem com o proposto e a despeito de situações pontuais questionáveis, consegue ser criativo e convincente.
Em um cenário apocalíptico, uma família é obrigada a viver em silêncio após o surgimento de criaturas mortais guiadas pelo som. Mas lidar com essa realidade é uma tarefa árdua e ao longo da trajetória, o drama vem à tona em situações de perda, culpa, insatisfação e pavor.
Cenas silenciosas dão o tom e inicio à história marcada pela aparente dizimação de grande parte da civilização e o medo da emissão de qualquer som capaz de atrair os monstros, figuras reveladas no decorrer da trama. Aliás, este é um ponto positivo, trabalhar com o suspense e exibir gradualmente a aparência destes seres.
Grito silencioso: uma tensão sufocante
O trabalho de som é um dos pontos altos, o controle do áudio é um componente importante para a narrativa e é tratado com primor, são sequências de restrição ou modulação sonora, por vezes, evidenciadas no contraponto com a deficiência auditiva da filha do casal, interpretada pela atriz Milicent Simmonds.
Tal recurso técnico é essencial na composição da atmosfera desejada, assim como o notório empenho dos atores, atentos ao trabalho de expressão corporal, até porque não basta se calar, é preciso adotar cautela no próprio gestual, a fim de evitar grandes ruídos.
Nesta linha, Emily Blunt convence na interpretação, ganha destaque nos closes e transpõe para o espectador a sensação sufocante de sofrer calada, mesmo submetida a grandes dores físicas e emocionais.
O senso de união familiar e a ideia de sacrifício pelos filhos são explorados e ficam bastante visíveis na relação entre o pai, interpretado por Krasinski e a filha, encarnada por Milicent. O desenlace disso gera um dos momentos de maior comoção do longa em uma estratégia narrativa até previsível, porém, bem desenvolvida.
Ainda assim, algumas passagens e detalhes curiosos revelam uma criatividade louvável do roteiro, todavia, determinadas cenas podem gerar questionamentos sobre as possibilidades de uma postura ou resolução retratadas serem condizentes com a realidade fora das telas de cinema. ‘Elipses à parte’, tais aspectos pontuais não desabonam a obra.
‘Um Lugar Silencioso’ é um suspense de viés dramático com nuances de terror, assinado pela direção zelosa de um cineasta/ator no comando de um elenco empenhado e com o perfil adequado. Alia-se a isso a luz, a fotografia, os recursos de som, os efeitos especiais e a ideia bem orquestrada de uma criatura perigosa e, felizmente, obtém-se um resultado bem-sucedido. Recomendo!