Baseado no livro homônimo, ‘Me chame pelo seu nome’ exibe roteiro diferenciado e trilha musical contagiante. Sob a direção de Luca Guadagnino, a nudez e a sexualidade são retratadas com zelo, ainda assim as cenas entre os personagens de Armie Hammer e Thimothée Chalamét são livres de pudores e repletas de romantismo.
Itália, início da década de 1980, um jovem de 17 anos descobre o amor com um dos orientandos de pós-graduação do pai, mas até que isso se concretize, ambos precisarão passar por algumas experiências e confusões sentimentais em meio a cenários de beleza natural e assuntos culturais.
Filosofia, arqueologia, etimologia, tais assuntos condizem com os estudos de Oliver (Armie Hammer) e do professor Perlman (Michael Stuhlbarg) , mas se relacionam ao entendimento sobre o amor entre os iguais e assim como as estátuas gregas, a formas do corpo humano tem a beleza ressaltada.
Aliás, a fotografia de Sayombhu Mukdeeprom retrata a nudez em meio a penumbra, mas quando esta é totalmente iluminada se dá com enquadramentos cuidadosos, todavia, o forte apelo erótico tem ápice nas situações de encontro e enlaces amorosos do casal.
Roteiro diferenciado: um outro ritmo
Adaptado da obra literária de André Aciman, o roteiro escrito por James Ivory investe em um ritmo próprio, diferente das produções mainstream, o plot se apresenta com maior lentidão e a descoberta da reciprocidade entre os enamorados se dá com cerca de 50 minutos de exibição.
Outro diferencial é a ausência de reviravoltas e, talvez, a sensação de que o filme pudesse ter o final abreviado se dê pela diversidade de cenas que serviriam de belo desfecho e dariam conta da história. O investimento em algo intimista sem espaço para grandes acontecimentos pode passar a ideia de que o longa poderia ter se resolvido em 100 dos 122 minutos do título.
Todavia, isso é uma escolha, é como se esta temporalidade conversasse com a linguagem do diretor e funcionasse como um tempo extra dado ao casal. Assim a trama estendida parece mais solta das amarras do cinema tradicional norte-americano.
Nas ondas do romance
A trilha musical é de uma sincronicidade à parte, o toque cult de canções como Love my way interpretada pelo The Psychedelic Furs, hit dos anos de 1980, ou mesmo a envolvente Visions of Gideon compõem a atmosfera proposta pelo longa.
Destaque para enquadramento de câmera, a composição de cena e o encadeamento do roteiro no momento em que se dá a descoberta do sentimento recíproco. Neste sentido, a trama segue na ideia do amor romântico frente aos medos e freios morais, uma relação delicada na qual o minimalismo representa mais que qualquer euforia sexual.
‘Me chame pelo seu nome’ tem um tempo próprio e tanto Armie Hammer quanto o novato Thimothé Chalamét se entregam aos personagens, sem pudores e seguros do caminho a ser trilhado. Sob a direção delicada de Luca Guadadino, a narrativa tem senso de humor e esbanja doçura, mas sem abdicar da realidade. Recomendo!