Estrelado por Meryl Streep e Julia Roberts, Álbum de Família investe na mistura tragédia e humor cáustico que dão o tom do reencontro de uma família envolta por mentiras, segredos e perversidade. Sob a direção de John Wells, a adaptação cinematográfica da obra de Tracy Letts bebe na fonte melodramática, ponderada por traços do drama sério.
Na trama, a reunião da família Weston se dá após o sumiço de Bervely (Sam Shepard), marido de Violet (Meryl Streep) e pai de Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis). Mas a reunião assume contornos trágicos em que as verdades nunca ditas são reveladas da pior maneira possível.
Autor do livro, Tracy Letts também assina o roteiro do longa, dirigido por John Wells, responsável por alguns episódios de Plantão Médico e Shamless. Em Álbum de Família, o tom melodramático predomina, seja nas revelações surpreendentes (quase rocambolescas), seja no figurino camp (cafona) da matriarca da família que sofre de câncer na boca.
No entanto, tais marcas são suavizadas pela lentidão de determinadas cenas que reiteram a noção de cotidiano ou pela escolha de uma paleta de cores sóbrias que se tornam quentes apenas no momento de enunciar o calor intenso de Missouri – EUA ou na composição da personagem de Juliete Lewis e seu companheiro Steve (Desmond Mulhoney), ele é o verdadeiro estereótipo do homem calhorda e infiel típico das telenovelas.
Mas o grande foco de Álbum de Família está na tensão entre as personagens de Meryl Streep e Julia Roberts. Ambas seguem a linha melodramática do longa, porém conseguem atuações críveis, especialmente no caso da veterana que dá vida a uma personagem infeliz e cruel, mas sem resvalar no maniqueísmo.
Vale destacar o trabalho de composição de Julia Roberts que abre mão do rótulo de diva e exibe cabelos brancos e rugas evidenciadas, sem qualquer tipo de filtro ou técnicas de desfoque e iluminação. Ela vive uma mulher que passa por sérios problemas, como a traição do marido, a dificuldade em lidar com a filha adolescente e o grande medo de se tornar uma cópia da mãe.
Esse é um dos grandes acertos da obra, por mais folhetinesca que pareça toda a situação, há uma busca pela atmosfera de realidade, onde as situações e os diálogos convergem para uma linha naturalista, pontuada por altas doses de humor negro.
Desta forma, a história flutua entre o cômico e o trágico, como ocorre na sequência do almoço em família, das gentilezas as provocações, das piadas às verdades perversas e dos risos aos embates físicos.
Mas que família horrível, diz uma mulher durante a exibição do filme, talvez seja isso, Álbum de Família se resume a uma mera pedagogia moralizante do modelo de vida a não ser seguido. Porém, ainda pode ser visto como algo maior, mesmo que use da tinta forte do melodrama, a narrativa chama a atenção para uma realidade perturbadora, onde o egoísmo e a maldade humana encontram no núcleo familiar o ambiente ideal para florescer.