Nesta releitura, a ação tem início com o trágico assassinato da filha de Jess, uma investigadora da polícia vivida por Julia Roberts. Diferente do título sul-americano, o lapso temporal é menor e a trama é ambientada nos anos de 2002 e 2015, algo que possibilita maior associação com a atualidade e evita o árduo do trabalho de caracterização para evidenciar a passagem dos anos.
Ainda assim, figurino, cabelo e maquiagem, além dos truques de edição e iluminação são utilizados para demarcar a distinção, por vezes sutil demais, entre as épocas retratadas. Porém, o foco está na atuação, Nicole Kidman, por exemplo, adquire um ar de insegurança na fase mais jovem de Claire para anos mais tarde transformar-se em uma figura forte e bastante centrada.
“Como se faz para viver uma vida vazia?” As paixões parecem dar sentido a existência e nesta linha, a história de amor platônica entre ela e o personagem de Chiwetel Ejiofor possibilita uma série de dificuldades para ambos, dando assim mais material emotivo ao ator que segue correto e traz veracidade ao papel.
Elenco experiente e bem dirigido, todos coerentes com a proposta mais contida da produção, algo perceptível pela expressão corporal, respiração e mesmo pelos olhares. Neste sentido, Julia Roberts merece destaque e como já havia feito em Álbum de Família, abre mão de qualquer glamour e investe na atuação.
Distinto daquilo imaginado a partir do trailer, Olhos da Justiça não se transforma em um episódio de CSI e mantém a ideia central do longa de 2009. Algo perceptível nas cenas mais dramáticas que remetem a proposta do roteiro argentino, com pausas mais reflexivas ou mesmo com a tensão correta em momentos chaves.
Mas isso não impede as mudanças relacionadas ao cenário, nem ao pano de fundo que dificulta a prisão do assassino, entretanto, ocorre um ganho artístico quando o longa se permite maior liberdade e até investe em um desfecho diferenciado.
No entanto, as comparações são inevitáveis e O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos), estrelado por Ricardo Darín e Soledad Villamil, ainda mantém superioridade e inevitável originalidade cinematográfica. A nova versão não apresenta a delicadeza ou mesmo a capacidade emotiva da obra dirigida por Juan José Campanela, premiada internacionalmente, inclusive com um Oscar.