Escritor especializado em atendimento ao cliente, Michael Stone viaja até Cincinnati, cidade de Ohio – Estados Unidos, para cumprir a agenda profissional, neste lugar, ele irá se deparar com o passado e também viverá uma nova aventura amorosa em meio a um provável colapso nervoso.
O início marcado pela experimentação com o som provoca uma sensação perturbadora, algo positivo do ponto de vista cinematográfico, inclusive, condizente com a cena no avião e o posterior turbilhão de sensações enfrentadas pelo protagonista. A concepção de design dos personagens como se estivessem de máscaras faz uma bem-sucedida alusão aos papéis estabelecidos em sociedade.
Um dos pontos fortes é o momento de desequilíbrio do protagonista que resulta em uma intrigante incursão pelo mundo do surreal, aliás, tal característica poderia ter sido mais aproveitada, isto combinaria com a sofisticação da forma. Mas a busca pelo senso de realidade é um dos objetivos pretendidos por Kaufman que também assina o roteiro.
Neste sentido, a opção por uma musa fora dos padrões (ditos) ideais é outro ponto alto, pois o fato dele enxergar beleza nessa mulher revela um traço de romantismo e também uma tentativa do roteirista de evitar o lugar comum. Livre de pudores, tanto a nudez quanto a sexualidade destas figuras são retratadas de maneira natural.
Entretanto, o discurso firmado pela narrativa acaba por permitir uma leitura convencional e pouco diferente de tantas outras histórias, tais como: entediado com o casamento e perturbado pela pressão das convenções sociais, homem de meia-idade se vê diante do refúgio de um sentimento fugaz.
Anomalisa tem luz irretocável e enquadramentos bem arquitetados por Joe Passarelli, as equipes de efeitos visuais e animação também têm mérito no resultado. Porém, ao optar por um viés mais realista e sem transformações significativas do protagonista, a trama escrita por Charles Kaufman apenas reitera um comportamento típico e não traz grandes inovações ao discurso, no entanto, cumpre o objetivo proposto.
Confira os bastidores da animação.
Ao ler fiquei em dúvida se você sabe que o personagem de Michael sofria da Síndrome de Fregoli. Você fala como se ele estivesse apenas de saco cheio da rotina e resolveu escapar. Ele tem um transtorno, por isso toda a confusão, os rostos e vozes iguais.