Inspirada em fatos reais, a trama exibe a trajetória tortuosa de Hugh Glass que durante uma expedição em busca de peles para a comercialização é atacado por um urso, o passado dele marcado por sofrimento é apenas o prenúncio de uma trajetória ainda mais trágica, repleta de provações violentas.
Na pele deste personagem, Leonardo DiCaprio demonstra uma performance intensa que exige esforço emocional e até mesmo físico, o diretor não o poupou e extraiu o máximo do ator. Tanto a interpretação quanto a condução desta aventura trazem verossimilhança ao roteiro assinado por Iñárritu em parceria com Mark L. Smith.
Outro aspecto que merece destaque é a fotografia de Emmanuel Lubezki, afável os olhos, com movimentos suaves, as imagens em contra-plongée parecem apontar para o céu, como uma espécie de chamado divino em meio ao inferno vivido pelo protagonista. Além disso, o uso inteligente do plano-sequência ressalta a direção precisa de um cineasta bastante minucioso.
Desta maneira, os pontos de corte são suavizados e a transição das imagens se dá de forma quase orgânica, há aí um grande mérito de Stephen Mirrione, responsável pela edição de Birdman (2014), filme de Iñárritu premiado com o Oscar em 2015. Ao capturar a essência da proposta e conversar com a fotografia, ele consegue costurar tudo com maestria.
Além de possibilitar efeitos visuais mais fantasiosos, as cenas amorosas, sem pieguice alguma, atuam como um alento para aquele homem praticamente desenganado e funcionam como uma estratégia sábia dos roteiristas para desenvolver a história e assim proporcionar um maior engajamento afetivo com a figura central.
Do outro lado da moeda, Tom Hardy compõe um vilão crível, tanto pela atuação desenvolvida quanto pelo roteiro que exibe o lado sofrido dele, sem justificá-lo mas também sem torná-lo maniqueísta, ele é demonstrando como um ser humano sem escrúpulos, portanto, perigosíssimo. Crédito também para a equipe de maquiagem e figurino que o caracteriza de modo formidável.
Sangue, crueldade, traição, assassinato, uma trajetória marcada pelo horror, mas também pela superação em sequências inesquecíveis de uma narrativa que poderia resvalar em um ou outro clichê, porém o que se vê em O Regresso é um trabalho visceral de verdadeiras proporções cinematográficas. São 156 minutos de projeção a serem apreciados, vale a pena conferir. Recomendo!